Carne

picanhaAinda lembro um comercial de TV de uma rede paulista de churrascarias, no qual um faquir pálido e magérrimo narrava as vantagens de uma vida sem carne, em flagrante contraste com a alegria esfuziante das pessoas se fartando de picanha nas cenas que fechavam o filme.

Gostaria de não gostar de carne. Toda vez que penso melhor sobre o tema, me se sinto algo selvagem, como se minha vida dependesse do consumo de cadáveres.

Mas mesmo nesses raros momentos de reflexão o estômago acaba vencendo a batalha contra os pudores da razão.

Fico um ou dois dias sem comer carne e logo sobrevém uma irritabilidade que só cessa quando eu devoro um generoso pedaço de bife. As fraquezas da carne. Ou da falta dela.

Embora esses achados sejam sempre vistos com alguma dose de suspeição (que nível de certeza podemos ter sobre eventos ocorridos há centenas de milhares de anos?) diversos estudos científicos sugerem que foi a carne que nos tornou humanos, como nos conhecemos hoje. Sobretudo após a descoberta do fogo, tivemos acesso a uma dieta mais calórica e com menor dispêndio energético no ato da mastigação e digestão. O consumo regular de carne cozida permitiu que ao longo dos séculos tivéssemos cérebros cada vez maiores, nos diferenciando dos outros animais e dos nossos primos primatas. Um gorila, por exemplo, é muito maior e mais forte que qualquer marombado de academia, e mesmo assim possui um cérebro até menor do que estes, pasmem!

É fato que hoje em dia temos muito conhecimento sobre nutrição e fácil acesso a toda gama de alimentos, onde uma dieta mais diversificada (e menos dependente da carne) passa a ser plenamente viável, o que não é o meu caso ainda.

Além disso, você sabe como são as descobertas científicas. No final do ano passado a OMS (Organização Mundial de Saúde) incluiu as carnes vermelhas e as processadas (sobretudo estas últimas) na lista dos alimentos potencialmente cancerígenos, embora seu consumo não seja desaconselhado, dentro de uma dosagem moderada.

O paradoxo da ciência. Cientistas desaconselham o consumo de carne, mas se não fosse o consumo de carne talvez ainda estivéssemos nos balançando nos cipós das árvores e comendo frutas silvestres e desse modo os cientistas não existiriam.

Talvez seja o homem das cavernas que em mim habita que me faz me deleitar com uma carne no espeto estrepitando sobre o fogo.

Que me desculpem a confissão do atraso. Admiro os herbívoros (até curto uma alface), mas não dispenso uma picanha na brasa.

Uga uga !

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