Dentro do coração

dentrodocoracaoFazia tempo que se incomodava com uma dor no peito, e nos últimos tempos o problema adquirira contornos dramáticos.

Nunca foi um exemplo de cuidados com o corpo, mas apesar de um abuso ou outro, gozava de boa saúde, de tal modo que evitou o quanto pôde a visita ao profissional das brancas roupas.

Mas sabia que seria inevitável. À dor no peito se somou um inchaço que, persistente, agora deformava-lhe por completo a caixa torácica, como se tivesse jantado um guarda roupas num dia de muita fome e depois se desse conta que não seria capaz de digeri-lo.

Resolveu visitar um médico que, espantado, admitiu nunca ter visto nada parecido em vinte anos de Medicina. Nada entendeu nem nada prescreveu.

Enquanto isso, seu peito não parava de aumentar. A essa altura, era como se tivesse o corpo duplicado. Sentia também um aperto no coração, como se o inchaço misterioso estivesse alterando sua freqüência cardíaca.

Consultou-se com o melhor cardiologista do mundo, que assustado ante o ineditismo do caso, resolveu fazer uma ressonância no mais moderno equipamento para detectar a origem do problema.

O exame mostrou com nitidez o interior do paciente:

Era Roberta, sua primeira namorada, inteirinha ali, alojada no seu peito.

Não havia solução. O médico sugeriu extirpá-la do seu peito dilacerado.

Mas ele preferiu continuar com ela ali dentro.

A dor lhe pareceu mais doce do que viver sem ela.

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