Um milagre de Natal

Christmas decorations

Todo ano, a mesma coisa.

Pessoas do mundo todo faziam seus pedidos: Brinquedos. Celulares. Roupas. Vídeo games. Carros. Livros. Viagens. Perfumes.

Mas eis que naquela noite uma estrela cadente desceu os céus em disparada, e como ninguém fizesse pedidos para ela, ela fez o pedido para todos:

Naquele natal não haveria presentes, e todo mundo viveria um dia na pele de outra pessoa.

Então o atleta virou paraplégico.

A pintora virou cega.

E o músico virou surdo.

O palestino virou israelense.

O israelense passou o Natal na faixa de Gaza.

O americano virou mexicano.

O muçulmano virou ateu.

O bilionário virou mendigo.

O dinamarquês virou etíope.

O japonês virou índio.

O sérvio virou croata.

O mundo virou do avesso.

E durante todo o dia 25 de dezembro tudo mudou pra todo mundo. O cego enxergou com os olhos da artista. O surdo ouviu com os ouvidos do músico. O paraplégico correu com as pernas do atleta. O mendigo se fartou da mesa cheia. O branco virou preto. O japa virou índio. O bilionário passou fome. O atleta não se mexeu. O alto ficou baixo. O magro virou obeso. O falante ficou gago. O gago fez discurso. A alma solitária amou como se não houvesse amanhã. O herói sucumbiu. O medroso rugiu. O insone dormiu o sono dos justos.

No dia seguinte, quando acordaram, tudo tinha voltado ao seu lugar. O rico na mansão. O cego na escuridão. O japonês no Japão. O muçulmano no Alcorão.

Mas um milagre tinha se operado naquelas 24 horas mágicas.

Ter experimentado a cegueira fez a mulher enxergar a vida de outra forma. O cego agora podia pintar seus pensamentos com todas as cores do mundo. Ter ficado paralítico fez o atleta percorrer uma jornada dentro de si mesmo. Ter virado palestino fez o judeu entender a causa do vizinho. Ter experimentado a dor do outro tornou as pessoas seres humanos melhores.

Ninguém ligou de não ter ganho um Iphone, um tênis ou um perfume, porque todo mundo ganhou uma vida nova, cheia de sentido e significado. E isso valia mais do que qualquer presente.

Lá no alto, a bordo de uma estrela fumegante, um ser bonachão sorria em silêncio o milagre divino e o resgate da essência perdida do verdadeiro natal.

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