Colapso e redenção

brasil colapso e redencaoJuro que tentei evitar o tema. Primeiro porque há generosa oferta de analistas mais qualificados falando sobre isso. Segundo porque acho que o espaço de crônicas deve ser um ambiente leve, um refúgio do noticiário eivado de sangue, petrodólares e escândalos.

Mas o Brasil se afundou numa crise política e econômica tão sem precedentes que é difícil não meter o bedelho.

Nunca antes na história deste país estivemos tão próximos de um colapso coletivo. Uma crise política cujo fundo do poço parece nunca chegar, uma crise econômica que só se agrava, um governo que não demonstra ter plano (nem apoio) para tirar o país do atoleiro, uma oposição sem projeto, um hiato de esperanças, um deserto moral.

Fosse novela mexicana ninguém acharia o roteiro crível.

Mas é apenas a nossa realidade esquizofrênica. Minha, sua e dos outros 200 milhões de brasileiros. Do paraíso ao inferno sem escalas e sem barrinhas de cereal.

Também não me alinho a nenhum dos lados desse Fla-Flu irracional. Chegamos num ponto em que o mais sensato seria rebaixar todos os times e cancelar a série A do campeonato. Não há mais campeão possível num jogo onde a regra é não ter regra. Somos vítimas diretas e cúmplices indiretos dessa derrocada.

Mas também acho que o colapso pode purgar nossas culpas, se soubermos extrair as lições cívicas do processo e amadurecer com a crise.

Higienizar os costumes políticos, praticar na vida cotidiana aquilo que criticamos naqueles que nos representam (os pequenos desvios de conduta que estão no DNA dos grandes), assumir nosso protagonismo nas grandes questões do país, renunciar a mesquinhez do interesse pessoal em todas as esferas do convívio em sociedade, desenhar o modelo de país que queremos para nossos netos e sobretudo cumprir a parte que nos cabe nessa tarefa hercúlea.

Da frustração virá o amadurecimento. Espero sinceramente que a gente não desperdice a oportunidade que essa crise nos dá.

Virão mais escândalos. Virão mais notícias ruins. Virá mais desemprego. Virá mais inflação. Virão mais impostos. Virá mais vergonha.

Mas talvez depois de tudo isso, venha também um país com instituições mais fortes (e não há nações desenvolvidas sem instituições sólidas), venha um novo jeito de fazer política, venha uma nova forma de praticar a cidadania, venha um novo Brasil.

O Brasil é maior que a crise que nós mesmos criamos e já cansamos de esperar um futuro que não chegará. Não chegará de mãos beijadas, chegará com as mãos calejadas. E chegará antes pelas mãos de todos e no longo prazo do que pelas mãos de um salvador da pátria, do dia para a noite.

É hora de substituir o velho jeitinho que criou esse Brasil e construir com o suor do dia a dia um Brasil que nos orgulhe e saia desse atoleiro que hoje nos encontramos.

Que do colapso venha a redenção.

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