O cupido míope

cupid

Havia um exército deles, voando pelos céus do mundo, armados com seus arcos inquebráveis e suas flechas infalíveis. Bem, quer dizer, quase sempre infalíveis.

É que no meio daquele esquadrão de intrépidos arqueiros, havia um, apenas um, cujas habilidades não eram assim muito precisas, para dizer o mínimo.

Ele era o único Cupido míope da turma. Mas como não há aposentadoria nem invalidez na vida eterna, ficava vagando por aí, acertando flechas ao sabor do imponderável. Mira aqui acerta acolá, mira lá acerta aqui.

Dizem que todo mundo um dia encontra sua alma gêmea. Dizem, mas isso nem sempre acontece. Culpa daquele único cupido míope, lançando flechas como quem arremessa dados numa roleta de cassino em Las Vegas.

– Vermelho 27?

– Não. preto 42!

E só pode ter sido assim que a conheci. O avesso de mim mesmo.

Meu amor por ela só pode ser explicado pela flecha errônea de um cupido míope.

Sou bagunçado, assimétrico, imprevisível como o céu londrino. Ela é organizada, tem métodos, regras e planos até para o improviso.

A vida pra mim é um quadro cubista do Picasso, pra ela é uma planilha de Excel.

Eu vivo meio perdido, mas ela sempre me encontra.

Côncavo, convexo, vice, versa, vicio, avesso. Ela me conhece como nem eu me conheço.

É assim mesmo, o amor não cabe em definições.

É por isso que agradeço o Cupido míope, que mirou no que viu e acertou no que não viu.

Um cupido que escreve certo por flechas tortas.

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