Previsões

A difícil arte de prever o futuro

A difícil arte de prever o futuro

Nunca consegui entender o fascínio que algumas pessoas sentem por cartomantes, videntes e ciganas. Qual a lógica de saber um futuro que não poderemos mudar? De mais a mais, se for futuro bom, vai estragar a surpresa, e se for ruim, irá provocar sofrimento por antecipação.

Isso pra não entrar no mérito da eficácia dessas previsões que me parecem suspeitíssimas, com um enredo pra lá de manjado: uma amiga invejosa, um misterioso pretendente, um problema de doença na família… elementos inseparáveis de qualquer novela mexicana.

Previsões pragmáticas, como números da mega sena, cotação do dólar ao final do mês, ou quem ganhará a Copa do Brasil, jamé.

Ando cada dia mais chateado com esse negócio de previsões. O dólar caiu a 2,19. Mas não faz muito tempo, renomados analistas  fizeram coro com o Ministro da Economia para afirmar categoricamente que a moeda americana logo estaria num patamar entre 2,50 e 2,70.

Lembro de um verão, deve ter sido 2003 ou algum outro ano ímpar que minha memória embotada não é capaz de precisar, quando tive a infeliz ideia de comprar uma revista Exame com o título de capa “Os melhores investimentos de 2003 para você”. Li atento, como bom e disciplinado aluno, todas as recomendações dos mais gabaritados experts do mercado financeiro. Vasculhei todas as dicas sobre commodities, renda fixa, ações, fundos cambiais, derivativos e até mesmo a velha e boa poupança. Peguei o que pouco que sobrara do final de ano e investi seguindo rigorosamente os sábios conselhos daqueles decanos de bem cortados ternos e sorrisos de cera. No final do ano, decepção azeda. O exato oposto de tudo que previram. Caiu o que era para subir, subiu o que era para cair, despencou o que era para ficar estável e foram à estratosfera as ações que recomendaram manter distância. Um fiasco.

E não dá para culpar um sujeito apenas. Era um verdadeiro exército de especialistas, Doutores por Harvard, analistas-chefe de consultorias internacionais, ex-ministros, todos com recomendações quase uníssonas. Estrelas alinhadas em um desastre cósmico. Fiz tudo certo e deu tudo errado. Um matuto que tivesse guardado dinheiro no seu colchão de tronchas molas teria feito melhor negócio.

Não, não vou ficar aqui injustamente pichando a relevância de tão valiosos profissionais. Admito até que durante a adolescência cogitei cursar Economia. Eram os hormônios.

Mas acho que precisamos de um critério melhor de avaliação dos economistas, esses seres que estão sempre atribuindo notas e estrelas para bancos, países e empresas.

Alguém já disse (ou provou, vai saber), que se um gorila fizer previsões econômicas randomicamente, baseado no resultado aleatório do lançamento de dados, terá na média, uma taxa de acerto parecida com a dos economistas.

Sei que as previsões econômicas dependem de uma miríade de fontes de influência para se concretizarem. Se uma borboleta fizer um vôo cambaleante numa ilhota nublada da Indonésia setentrional, a economia do interior do Piauí pode sofrer alguma forma de impacto funesto. Previsões econômicas estão fundamentadas em variáveis complexas e mutantes, as quais os economistas não possuem controle. Então deveriam explicitar isso ou se abster de palpitar sobre eventos de longo prazo.

Há leis que obrigam as companhias aéreas a informar a taxa de atraso de vôos no cartão de embarque, outra que obriga as lojas a discriminarem quanto pagamos de impostos naquele produto. Poderíamos aplicar o mesmo às previsões econômicas:

– Ao final do ano a inflação será de 5,87%, o dólar estará cotado a 2,37 e a bolsa cairá 12 pontos, segundo Jodenilson de Fábregas, economista sênior do Banco Fenomenal, que errou 92,7% das previsões que já realizou.

Prever o futuro não é mesmo tarefa fácil, já previra Nostradamus.

Lembrei de um episódio do saudoso seriado Seinfeld, em que o personagem George Constanza, um gordinho calvo e fracassado, resolve dar uma reviravolta na sua vida adotando uma postura radical: a partir daquela data faria tudo rigorosamente ao contrário do que sempre fez, para ver se assim obteria resultados diferentes. Conhecia uma garota, e ía logo dizendo que morava com os pais, estava desempregado e era um completo fracasso, estratégia que, contra toda a lógica, funcionou.

Estou pensando seriamente em adotar a mesma estratégia para meus parcos investimentos. Estudarei com devotado rigor todas as recomendações dos doutos economistas, para então fazer o seu exato oposto. Sei que esses analistas são realmente bons, mas o acaso tem se revelado um bocado mais sábio.

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