Psicologia canina

“Tem muita gente por aí que está querendo levar uma vida de cão

Eu conheço um garotinho que queria ter nascido pastor alemão”

(Rock da cachorra – Eduardo Dusek)

 

Estava no camarim de uma emissora de TV, junto com outros convidados, aguardando para ser entrevistado, quando resolvi puxar papo com a convidada acompanhada de um… cachorro!

Oi, tudo bem? Eu vou falar sobre opinião pública e redes sociais, e você?

Eu trouxe a Mayla, e vou falar sobre ela. Eu sou psicóloga de cachorros – falou, com a maior naturalidade do mundo, como quem diz que é dentista, operadora de telemarketing ou revendedora da Avon.

Ah… que legal, disse eu, forçando uma expressão de normalidade.

E a Mayla, vai participar do programa também?

Claro, ela está super empolgada, a gente até já fez exercício e caminhada de manhã para ela controlar a ansiedade…

Legal, ela é que nem eu então, tem crise de ansiedade. Eu também pratico esporte pra ganhar um pouco de serotonina. Cachorro também tem serotonina ou seria serocanina?

Ela fingiu que não entendeu o trocadilho infame, o que foi um alívio para nós dois.

E então, nos minutos seguintes, discorreu sobre os meandros da psicologia canina, e tudo me pareceu desconcertantemente parecido com a psicologia humana. Disse, por exemplo, que os cachorros menores são os mais ardidos e estressados por serem mais mimados, e acabam sendo “estragados” pelos donos que fazem todas as suas vontades. Igual criança birrenta.

Uma vez um psicólogo me disse que de tanto conviver com os homens os cães estavam começando a adquirir alguns de nossos traços de personalidade, o que sinceramente não sei se é grande vantagem evolutiva para nossos amigos caninos.

Acho que a gente tem uma tendência natural a gostar de animais. Às vezes se apega tanto que é como se fossem parte da família. Pesquisas realizadas nos Estados Unidos mostram que nove em cada dez americanos consideram seus animais de estimação realmente como parte da família. Deve ser por isso que 36% deles admitem que dão presentes de aniversário para seus parentes de quatro patas.

Quando eu era criança, tinha um pintinho (sem piadas, que essa é uma crônica séria), que se chamava Bob, e eu era louco por ele. Uma tarde cheguei da escola e descobri horrorizado que ele tinha se afogado num balde com água. Chorei como se chorasse a morte de um irmão. Depois tive uma vira latas chamada Tigresa (que ostentava um T branco nas suas costas marrons) e que um dia desapareceu de casa. Muitos anos depois passei a suspeitar que minha mãe tenha escondido de mim algum destino trágico da Tigresa para me poupar. Seja como for, nunca mais tive uma relação tão intensa com animais.

Mas os números, assim como os animais, não mentem: o mundo tem cada dia mais animais de estimação. O Brasil é o segundo país com maior número de cachorros do mundo, com uma população estimada de 36 milhões. Nos últimos anos proliferaram não apenas os pet shops, mas toda uma indústria de produtos e serviços voltados para o melhor amigo do homem.

Além disso, as familias estão menores, mais gente decide não ter filhos ou viver sozinha, e num mundo mais solitário e auto centrado, nada como ter um amigo fiel do lado.

E se eles têm ajudado tanta gente complicada a ter mais conforto psicológico, devem andar mesmo estressados com essa vida de cão.

A Mayla que o diga, digo, que o lata.

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