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Um muro, dois mundos

Um muro, dois mundos.

Assim era a cidade de Berlin, até o ano de 1989.

O Muro de Berlim foi uma obra impressionante, mais de 160 km separando as duas Alemanhas, a Oriental, comunista, e a Ocidental, capitalista.

Um retrato perfeito do mundo bipolar da época da Guerra Fria e das profundas divisões que marcaram o povo alemão após a Segunda Guerra Mundial.

Ao longo dos 28 anos em que o muro existiu, 136 pessoas foram mortas pela polícia tentando atravessar as fronteiras, centenas foram feridas e cerca de 5000 conseguiram fugir para o lado ocidental.

O muro foi construído na calada da noite, de surpresa, na madrugada do dia 13 de agosto de 1961.

O muro separou não apenas dois mundos e duas formas de governo, mas também amigos, amantes e famílias inteiras, que ficaram quase três décadas sem poder se ver. Imagine que alguém construísse um muro separando sua cidade ao meio e subitamente você não pudesse mais ter contato com seus amigos e familiares, como se sentiria?

O muro começou a ser derrubado fisicamente em 1990, com a presença da população dos dois lados. Hoje a Alemanha está reunificada e o muro é apenas uma lembrança do tempo em que tijolos separavam o mundo em dois.

Mas não se impressione com os 160 km do Muro de Berlim, porque a famosa Muralha da China, que começou a ser erguida no século quinto antes de Cristo, chegou a contabilizar inacreditáveis 21.196 km!

A ideia dos muros parece recorrente na história das civilizações.

Em Israel, um dos locais mais sagrados para os Judeus é o Muro das Lamentações, último pedaço de construção que sobrou do Templo de Herodes, destruido pelo Imperador Romano Tito, que teria deixado apenas esse muro para que os judeus nunca mais se esquecessem de sua triste derrota para Roma.

Recentemente o Presidente Donald Trump defendeu a construção de um muro separando os Estados Unidos do México, para que imigrantes ilegais não entrem em território americano, uma obra faraônica que segundo o amalucado Presidente seria paga com dinheiro dos próprios mexicanos. It’s all wrong, but it’s all right, Mr. President !

No Brasil, não faz muito tempo circulou a ideia de construir um muro em favelas do Rio de Janeiro. Em 2009, no início do mandato do Governador Sérgio Cabral (que hoje vive atrás dos muros de uma penitenciária), o Estado iniciou a construção de muros nas favelas de Santa Marta e Rocinha, projeto logo descontinuado (como boa parte dos projetos que os Governos iniciam no Brasil). Os muros serviriam para conter o crescimento de favelas em áreas de risco e proteção ambiental, mas foi visto como uma forma de isolar a favela do resto da cidade.

Nas grandes cidades já nos acostumamos com muros que separam nossas vidas particulares do mundo lá fora. Aliás, nas grandes cidades não temos mais muros porque ninguém vive em casas. Vivemos apartados, em cubículos que não por acaso recebem o nome de apartamento.

Quando eu era criança um monte de gente (às vezes inclusive eu) pulava o muro da escola só para comprar pastel na praça. Não que o pastel fosse grande coisa, como descobri alguns depois. A graça mesmo era pular o muro, dar uma bisbilhotada “lá fora”.

De alguma forma continuamos erguendo muros, concretos ou abstratos, separando mundos, pessoas, departamentos ou ideias perigosas.

Mas como sói acontecer, um dia os muros caem e os mundos se juntam novamente para que as pessoas possam então comer juntas o pastel gorduroso da praça, que não presta, mas é ótimo.

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